Título: Estruturação da Comunidade de Odonata (Insecta) na Amazônia Oriental: Efeitos Espaciais, Ambientais e Morfológicos
Aluno: José Max Barbosa De Oliveira Junior
Resumo:
Entender como as comunidades naturais estão estruturadas tem sido um dos principais objetivos em ecologia. Fatores locais e regionais, como o clima, o tipo de hábitat e as interações entre espécies, são os principais responsáveis pela estruturação das comunidades em ambientes naturais. Neste contexto, nosso objetivo é avaliar o efeito dos fatores ambientais (locais e regionais) e espaciais sobre a distribuição da comunidade de adultos de Odonata na Amazônia Oriental. Adicionalmente, avaliamos se existe um limite na similaridade morfológica para a coocorrência das espécies, buscando testar padrões na distribuição das espécies. Para responder a esses objetivos dividimos a tese em três capítulos: O primeiro capítulo avalia o efeito dos fatores ambientais e espaciais; o segundo o efeito dos fatores ambientais locais e regionais e o terceiro avalia se existe um limite na similaridade morfológica para a coocorrência de espécies de comunidade de adultos de Odonata na Amazônia. Foram amostrados Odonata adultos em 98 igarapés na Amazônia Oriental, Pará, Brasil. Os fatores ambientais locais foram avaliados com base em um índice de integridade ambiental e variáveis físicas quantitativas. Variáveis espaciais foram geradas através de filtros espaciais (PCNM). Foram considerados como fatores ambientais regionais o gradiente de altitude, variáveis bioclimáticas e percentuais de cobertura florestal. Foram selecionados 10 indivíduos machos de cada espécie para mensurar nove medidas morfométricas, com o uso de um paquímetro. Foram amostrados 3.588 espécimes de Odonata, distribuídos em 11 famílias, 49 gêneros e 134 espécies. Somente os fatores ambientais explicam a variação na comunidade de Odonata em todos os ambientes (R2adj.= 0,223; p< 0,001), bem como separadamente (Preservados: R2adj.= 0,225; p< 0,001; Alterados: R2adj.= 0,258; p< 0,001), não houve efeito dos fatores espaciais (Todos os ambientes: R2adj.= 0,001; p= 0,529; Preservados: R2adj.= 0,007; p= 0,554; Alterados: R2adj.= 0,009; p= 0,314). O mesmo foi observado para Zygoptera (Ambientais - Todos os ambientes: R2adj.= 0,183; p< 0,001; Preservados: R2adj.= 0,233; p< 0,001; Alterados: R2adj.= 0,189; p< 0,001; Espaciais - Todos os ambientes: R2adj.= 0,005; p= 0,741; Preservados: R2adj.= 0,018; p= 0,628; Alterados: R2adj.= 0,009; p= 0,632). Para Anisoptera, os fatores ambientais explicam a variação na comunidade apenas quando considerado todos os ambientes (R2adj.= 0,155; p< 0,001) e alterados (R2adj.= 0,222; p< 0,001). Em ambientes preservados nem fatores ambientais (R2adj.= 0,023; p= 0,419) e espacias (R2adj.= 0,114; p= 0,147) explicam a variação da comunidade. O particionamento de variação indicou contribuições distintas dos fatores ambientais locais e regionais sobre a variação na composição de espécies. O componente partilhado pelos dois fatores (locais e regionais) foi mais importante para explicar a variação tanto nas comunidades de Odonata (R2adj.= 0,24) como de Anisoptera (R2adj.= 0,15) e Zygoptera separadamente (R2adj.= 0,24), seguido pelo componente ambiental local puro (Odonata: R2adj.= 0,12; p< 0,001; Anisoptera: R2adj.= 0,11; p= 0,001; Zygoptera: R2adj.= 0,10; p< 0,001) e por último, pelo componente ambiental regional puro (R2adj.= 0,07; p< 0,001; R2adj.= 0,03; p= 0,036; R2adj.= 0,08; p< 0,001). Porém além desses fatores, a competição mostrou-se um fator importante na distribuição das espécies. Padrões não aleatórios de coocorrência das espécies de Odonata ocorrem tanto nos igarapés presevados (C= 12,44; p= 0,000; Ck= 2524,00; p= 0,000) quanto nos alterados (C= 12,53; p= 0,000; Ck= 4499,00; p= 0,000). O mesmo foi observado quando avaliado separadamente para Zygoptera (preservados: C= 16,51; p= 0,000; Ck= 1009,00; p= 0,000; alterados: C= 13,95; p= 0,000; Ck= 991,00; p= 0,000). Já para Anisoptera foi encontrado um padrão aleatório de coocorrência das espécies tanto nos igarapés preservados (C= 4,87; p= 0,068; Ck= 308,00; p= 0,046) quanto nos alterados (C= 8,33; p= 0,849; Ck= 1130,00; p= 0,063). Em igarapés preservados foi observado que existe uma intensa competição interespecifica de Odonata ebaseada na morfologia (p< 0,001). O mesmo não foi observado em igarapés alterados (p= 0,411). Quando avaliado separadamente por subordem, para Zygoptera o mesmo padrão foi observado (Preservados: p< 0,001; Alterados p= 0,406). Para Anisoptera tanto em igarapés preservados (p= 0,431) quanto em alterados (p= 0,773) as sobreposições morfológicas não são diferentes de valores esperados em comunidades aleatórias. Demonstramos que os Odonata estão fortemente associados às condições ambientais dos ecossistemas aquáticos na Amazônia Oriental, corroborando nossa hipótese de que a estruturação das comunidades locais responde, majoritariamente, a fatores ambientais (e.g. estrutura da vegetação ripária, impactos humanos e variáveis físico-químicas). Um grande número de espécies de Odonata são estenotópicas, as tornando altamente dependentes de condições locais. Em geral as espécies de Zygoptera são sensíveis às variações ambientais por restrições ecofisiológicas, já os Anisoptera são mais tolerantes às diferentes condições ambientais. Para essas espécies mais especialistas, as condições locais do ambiente tendem a ser mais determinantes para a sua distribuição, o que leva a inferência de que uma seleção de espécies está atuando como processo determinante na estrutura e dinâmica destas comunidades. A relação da comunidade de Odonata com o hábitat identificado neste estudo têm algumas implicações importantes no uso desses organismos para monitoramento em pequenos igarapés. Adicionalmente os padrões de distribuição das espécies de Odonata são afetados pelos processos de similaridade limitante, em especial em ambientes preservados, e para os grupos mais especialistas, como a maioria dos Zygoptera. À luz das rápidas mudanças ambientais, uma questão importante nos estudos sobre estruturação de comunidades é a escala em que o hábitat é medido, uma vez que um hábitat adequado deve atender às necessidades ecológicas de todos os estágios de vida desses indivíduos. Portanto, futuros trabalhos podem usar os fatores ambientais e espaciais conjuntamente com a similaridade limitante para melhor compreender a estruturação dessas comunidades.
Banca Examinadora:
- Dr. Leandro Juen (Orientador - UFPA)
- Dra. Helena Soares Ramos Cabette (Membro - UNEMAT)
- Dr. Paulo De Marco Júnior (Membro - UFG)
- Dra. Yulie Shimano (Membro - MPEG)
- Dr. Luciano Fogaça de Assis Montag (Membro - UFPA)
- Dr. Raphael Ligeiro Barroso Santos (Membro - UFPA)
- Dra. Cecília Gontijo Leal (Membro - UFLA)
Local: ICB/UFPA
Data: 04/12/2015
Horário: 14h